O seu filho chora quando não lhe dá o seu smartphone? Descubra o que os experts dizem sobre isso!

Num momento em que a internet está por todo o lado, desde a nossa casa ao café da esquina, torna-se crucial reflectir sobre o impacto que esta presença tem na sociedade. Torna-se ainda mais importante ponderar o impacto que esta exerce nas crianças. Segundo a Academia Americana de Pediatria, em San Diego, as crianças aprendem primeiro a manusear um device do que a andar e a falar. Hoje, ouvimos berros em restaurantes, centros comerciais e supermercados, não devido a quererem brincar com o action man ou barbie mas sim para usarem o telemóvel ou tablet dos pais. Hoje não vemos uma família a dialogar cara-a-cara. Hoje não vemos miúdos a brincarem às escondidas ou à apanhada. Hoje não vemos meninas a pentearem os cabelos das suas barbies e nenucos. Hoje, segundo Magda Dias, autora do blogue “Mum’s the boss” e do livro “Crianças Felizes”, vemos “zombies”. Zombies concentradissímos em devices. Não há comunicação. Não há gargalhadas. Há aplicações e níveis de jogos alcançados.

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Perante esta realidade, quantas vezes já se interrogou: A utilização de smartphones ou tablets prejudica ou beneficia o desenvolvimento do/a meu/minha filho/a? Descubra o que os experts têm a dizer sobre isto.

De acordo com Maria Belo, Psicoterapeuta, “como quase tudo na vida os tablets e smartphones têm benefícios e prejuízos segundo cada criança e sobretudo da maneira e para que os usam”. Letícia Oliveira, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta na área do desenvolvimento infantil, afirma que a “criança nos seus primeiros anos de vida, tem as suas capacidades de aprendizagem na sua máxima potência”. Desta forma, torna-se simples conceber o motivo pelo qual as crianças manuseiam as tecnologias com tamanha rapidez e eficácia. João Matos, Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta, enfatiza os benefícios desencadeados a nível “cognitivo e criativo das crianças” dada a estimulação orientada para a concretização de objectivos. Mariagrazia Marini Luwisch, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta, acrescenta que se traduzem numa mais-valia “principalmente na concentração e na coordenação motora fina da criança”.

Por outro lado, Luwisch defende que “pode haver dificuldades quanto ao desenvolvimento da interacção social, da empatia e na resolução de problemas, que são normalmente alcançados ao explorar, brincar e ao interagir com pessoas”. Em consonância, João Matos alerta que a utilização de smartphones e tablets pode significar uma fuga à relação porém, neste caso, o problema é oriundo “das relações existentes e não destes meios”. Para além disto, o Psicólogo ressalta que restringir o acesso a estas tecnologias poderá resultar numa “relação repressiva”. Neste sentido, Mariagrazia demonstra a sua preocupação em relação “ao gerir emoções e ao controle da ansiedade e frustração quando a criança não puder ter estes dispositivos à disposição” pois “ao estar entretida com joguinhos eletrónicos, não estará envolvida com o que acontece ao seu redor e se não desenvolver a relação interpessoal poderá tornar-se insegura e despreparada para enfrentar pressões, provocações e situações adversas da vida”.

Sendo os smartphones e tablets, segundo Nuno Sousa, Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta, uma utilização “potencialmente solitária”, “aprendizagens relacionais importantes como o jogo em equipa e cooperação com pessoas com características diferentes” não são tão exploradas como deveriam. Para Letícia Oliveira, “uma criança em desenvolvimento deve ser estimulada para a curiosidade e a procura, ou seja, deve-lhe ser proporcionada uma forma de aprendizagem que a leve a compreender os processos e não só o resultado final”. Esta compreensão não se verifica na utilização de tablets e smartphones. A criança, de facto, torna-se capaz de cumprir o objetivo, porém, poderá não assimilar o ”caminho que levou a tal”.

Contudo, segundo Nuno Sousa, estas tecnologias acabam por ser um “recurso benéfico ao desenvolvimento da criança porque ela tem facilmente acesso a aplicações lúdicas e pedagógicas, podendo aprender sobre diversas temáticas de uma forma fácil e divertida, ajudando a aguçar a curiosidade”. Sousa também reconhece algumas limitações inerentes aos estímulos resultantes da tecnologia, “a sua utilização é praticamente limitada ao estímulo cognitivo teórico e sensorialmente limitada à visão e, residualmente, à audição”, o que não acontece no manuseamento de materiais, onde estímulos como “o olfacto, o tacto, a motricidade fina, o raciocínio operativo e a imaginação”, são bastante explorados.

De acordo com Paula Marques, Psicóloga Clínica e Formadora na Clínica “Criar”, “existem aplicações particularmente interessantes no que respeita ao desenvolvimento de competências relacionadas com as aprendizagens académicas e que podem, inclusive, promover a motivação e consolidação de conteúdos escolares, sendo que o uso da tecnologia deve ser visto como algo natural mas, como qualquer aspeto fundamental no desenvolvimento de uma criança, deve ser pautado por regras claras e por uma utilização que promova a responsabilidade e o autocontrolo”.

Magda Dias frisa: “como em tudo, o equilíbrio deveria ser a regra na utilização daquilo que causa dependência porque sim, a Internet, os jogos e tudo o que é digital causa dependência”. Refere ainda que “desvinculamo-nos do papel de pais quando, continuamente, deixamos que a tecnologia passe a entreter os nossos filhos. A cada passo afastamo-nos mais deles, e eles de nós. A cada momento perdemos situações mágicas porque estamos a olhar para baixo, para um mundo virtual”. Mariagrazia remata “é importante dar sempre preferência a actividades familiares sem o uso da tecnologia e lembrar que o tempo de qualidade em família é essencial para o desenvolvimento de uma família funcional e saudável”.

Em suma, a relação entre a criança e a tecnologia pode demonstrar-se bastante benéfica a vários níveis. No entanto, quando em demasia, torna-se prejudicial e poderá afetar a sua capacidade relacional.

Posto isto, pergunto-lhe, continuará a dar o seu tablet ou smartphone ao seu filho sempre que ele pedir?

Se considera que o/a seu/sua filho/a está dependente da tecnologia, consulte um psicólogo.